27 maio 2012

Fragmentos de um fim de semana...




"Arte passageira..."

Firenze Gelato Festival


Depois de um sábado, muito cinzento, caseiro e pouco produtivo...

Hoje, consegui dar um passeio pela cidade, que me faz tanta falta, não precisa ser um grande passeio, uma pequena volta pelo centro ou num jardim, a apreciar e fotografar alguns pormenores, e eu já fico mais animada.
Iniciei o passeio de hoje, a beber um bello cappuccino, num agradável café na Piazza della Passera e terminei a observar o caótico movimento associado ao último dia do Firenze Gelato Festival, onde fui descobrir a representação de Portugal, com uma gelataria de Tavira.

Claro que todo o meu fim de semana foi repleto de miminhos e brincadeiras com a Bianca...

"Variação sobre rosas..."


” Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar.

Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama-se no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.

E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta. “

(Nuno Júdice)

23 maio 2012

"A Divina Comédia..."




 " (...) Quando Dante tinha nove anos de idade viu um dia na rua uma rapariguinha, tão jovem como ele, e que se chamava Beatriz. Beatriz era a criança mais bela de Florença: os seus olhos eram verdes e brilhantes, o seu pescoço alto e fino, os seus cabelos leves e loiros, trémulos sob a brisa. E caminhava com ar tão puro, tão grave e tão honesto que lembrava as madonas que estão pintadas nas nossas igrejas. Dante amou-a desde essa idade e desde esse primeiro encontro. Mas passados anos, em plena juventude, Beatriz morreu. Essa morte foi o tormento de Dante. Então, para esquecer o seu desgosto, começou uma vida de loucuras e erros. Até que um dia, numa Sexta-Feira Santa, a 8 de Abril do ano de 1300, se encontrou perdido no meio de uma floresta escura e selvagem. Aí lhe apareceram um leopardo, um leão e uma loba. Dante olhou então à roda de si e viu passar uma sombra. Ele chamou-a em seu auxílio e a sombra disse-lhe:
 - "Sou a sombra de Virgílio, o poeta morto há mais de mil anos, e venho da parte de Beatriz para te guiar até ao lugar onde ela te espera."
 Dante seguiu Virgílio. Primeiro passaram sob a porta do Inferno onde está escrito: "Vós que entrais deixai toda a esperança".
 Depois atravessaram os nove círculos onde estão os condenados. Viram aqueles que estão cobertos por chuvas e lama, viram os que são eternamente arrastados em tempestades e vento, viram os que moram dentro do fogo e viram os traidores presos em lagos de gelo. Por toda a parte se erguiam monstros e demónios, e Dante agarrava-se a Virgílio tremendo de terror. E por toda a parte reinava a escuridão como numa mina. Pois era ali um reino subterrâneo, sem sol, sem lua e sem estrelas, iluminado apenas pelas chamas infernais.

Depois de terem percorrido todos os abismos do Inferno voltaram à luz do sol e chegaram ao Purgatório, que é um monte num meio duma ilha subindo para o céu. Aí Dante e Vergílio viram as almas que através de penitências e preces vão a caminho do Paraíso. Neste lugar já não se viam demónios, mas em cada nova estrada surgiam anjos brilhantes como estrelas. 
Até que chagaram ao Paraíso Terrestre, que fica no cimo do monte do Purgatório. Aí, entre relvas, bosques, fontes e flores, Dante tornou a ver Beatriz. Trazia na cabeça um véu branco cingido de oliveira: os seus ombros estavam cobertos por um manto verde e o seu vestido era da cor da chama viva. Vinha num carro puxado por um estranho animal metade leão e metade pássaro.

 - Dante – disse ela -, mandei-te chamar para te curar dos teus erros e pecados. Já viste o que sofrem as almas do Inferno e já viste as grandes penitências daqueles que estão no Purgatório. Agora vou-te levar comigo ao Céu para que vejas a felicidade e a alegria dos bons e dos justos.
Guiado por Beatriz, o poeta atravessou os nove círculos do Céu. Caminharam entre estrelas e planetas rodeados de anjos e de cânticos. E viram as almas dos justos cheias de glória e de alegria. Quando chegaram ao décimo Céu Beatriz despediu-se do seu amigo e disse-lhe:
- Volta à terra e escreve num livro todas estas coisas que viste. Assim ensinarás os homens a detestarem o mal e a desejarem o bem.

Dante voltou a este mundo e cumpriu a vontade de Beatriz. Escreveu um longo e maravilhoso poema chamado "A Divina Comédia", no qual contou a sua viagem através do reino dos mortos.
A notícia desta viagem causou grande espanto em Florença. Quando Dante passava na rua todos se viravam para o ver, pois diziam que ele ainda tinha a barba "chamuscada pelo fogo do Inferno que tinha atravessado".
                
- É verdadeiramente a história mais extraordinária que ouvi em toda a minha vida – disse o Cavaleiro -. Compreendo que Dante tenha sido recebido com grande espanto e curiosidade. E, mais ainda, julgo que daí em diante deve ter sido um homem de grande autoridade respeitado e escutado por todos os seus concidadãos.
 - De facto – disse Filippo – devia ter sido assim, mas não foi assim que aconteceu. Quando, depois de ter atravessado os três países da morte, o poeta voltou a Florença e encontrou a cidade apaixonada por grandes lutas políticas. Havia nesse tempo dois partidos que dividiam a Itália: o partido dos Guelfos e o partido dos Gibelinos. Dante era gibelino, e aconteceu que nesse ano de 1300 ele foi eleito para o governo da cidade. Mas tempos depois o seu partido foi vencido e o poeta exilado. Mais tarde os seus inimigos também o condenaram a ser queimado vivo. Felizmente nessa altura ele já estava longe de Florença, e assim escapou à morte e ao suplício. Mas nunca mais pode voltar à sua cidade natal e viveu até ao fim da sua vida vagueando como refugiado político pelas outras cidades italianas. E foi neste exílio, separado de Beatriz pela morte e de Florença pela injustiça dos homens, que Dante escreveu a "Divina Comédia"  (...)"

(Sophia de Mello Breyner Andresen in O cavaleiro da Dinamarca)

21 maio 2012

Por estes dias...



Por estes dias...recebi a visita do meu irmão. Não tive muito tempo para lhe servir de guia durante a semana, mas sempre que possível, nomeadamente no fim de semana, mostrei-lhe alguns do meus cantinhos nesta cidade, passeamos pelas ruas da cidade, apreciamos a vista - no Piazzale Michelangelo, na companhia do David - e  descobrimos um novo (para mim) e agradável jardim...

E como não poderia deixar de ser, passeamos nos mercados e feiras do fim de semana (Fortezza Antiquario e Mercado Biológico) e houve, ainda, oportunidade de espreitar  a nova exposição de fotografia na Tethys Gallery (La casa dei libri) e uma exposição de simpáticas e minuciosas miniaturas das fachadas de Firenze (Firenze in punta di dito) da autoria de Roberto Menchiari, na & and Company, mais uma simpática loja da minha rua.





"Mercado Biológico..."

"Fortezza Antiquario..."


"Firenze in punta di dito"




14 maio 2012

"Ausência..."



"Quero dizer-te uma coisa simples:
a tua ausência dói-me.
Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma;
mas que não deixa, por isso,
de deixar alguns sinais -
um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos.
Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto.
São estas as formas do amor,
podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples
também podem ser complicadas,
quando nos damos conta da diferença entre
o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória;
e a realidade aproxima-me de ti,
agora que os dias correm mais depressa,
e as palavras ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de mim -
e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói."

(Nuno Júdice)

Questo finesettimana...


Casentino...

A chegada da Bianca...

La mamma di Bianca...

Artigianato e Palazzo

Feira de Antiguidades...



13 maio 2012

Apresento-vos a Bianca...



A minha “Principessa” felina e italiana, a minha mais recente adopção! 
Para muitos, uma decisão não muito correcta, mas para mim, uma companhia que já começou a proporcionar adoráveis momentos...
Durante dois anos, pensei muito sobre os prós e contras de adoptar um gato em Florença. Analisei e voltei a analisar  e disse sempre que não podia ser! Este ano, não pensei muito, simplesmente aceitei esta maravilhosa oferta (Grazie Beppe e Alessia!!). E apesar de não ter analisado muito a situação (desta vez!), sei que lhe vou proporcionar tudo a que tem direito e encontrar sempre soluções, para as nossas viagens e para o nosso regresso definitivo a Portugal! 
Até lá, vamos ser muito amigas, aliás já somos, e só estamos juntas há dois dias.

Depois de pensar um pouco e ouvir algumas sugestões interessantes, acabei por dar-lhe o nome de Bianca, pois vivemos na mesma rua em que viveu Bianca Capello, uma personagem da história de Florença, e porque maioritariamente ela é bianca (=branca). Se dúvidas haviam em relação ao seu nome, foram dissipadas, ao abrir um livro e de lá cair um folheto da Academia Bianca Capello...








"Bianca Capello (1547 - 1587) foi uma veneziana de boas famílias que teve de deixar  a sua cidade depois de casar com Piero Buonaventuri, um pequeno banqueiro.
O casal encontrou refúgio em Florença, onde travou conhecimento com o grão-duque Francisco I de Medici (1541 - 1587). Casado contra vontade com Joana de Áustria, este apaixona-se perdidamente pela bela veneziana. O sentimento foi recíproco. Francisco casa com ela após o desaparecimento da sua mulher, mas a nobreza florentina e o cardeal Fernando, irmão do grão-duque, nunca aceitaram a união. Francisco I de Medici e Bianca Capello morreram com um dia de intervalo na Villa di Poggio em Caiano, em Outubro de 1587. A lenda diz que terão sido envenenados pelo cardeal Fernando."

(Nicolas de Crécy e Élodie Lepage in Florença)

08 maio 2012

Veneza...


"Quando, Veneza minha, nos teus telhados
Um esplendoroso Sol brilha,
Deixa-me dizer-te, se a imagem te agrada,
Que me pareces uma rapariga despreocupada

Que me pareces, quando dormes descansada,
Sob os beijos da Lua prateada,
Ao sabor das vagas que te embalam,
A poesia de quem sonha enamorada

Na bruma pareces uma donzela
Que quer fazer mistério do seu encanto
Por detrás do seu melancólico manto

E quando pelo contrário chove; dá dor
Pois tu és uma bela mulher em pranto
Depois de uma briga de amor"

(Eugenio Genero)

07 maio 2012

"The Italian Journey" - Cinqueterre...

Via  dell'Amore

Foi à pouco mais de um ano que realizei um sonho antigo. O sonho de conhecer cinco terras únicas no mundo, conhecidas por Cinqueterre.

Chegámos a Riomaggiore e foi a partir daí que iniciamos o nosso percurso, atravessando a famosa Via dell' Amore, para chegar a Manarola.
Alguns dos caminhos pedestres, do parque, estavam fechados e para visitar as restantes e pitorescas terras, tivemos de recorrer aos comboios.

Um dos pontos altos da nossa viagem, foi o final dessa primeira tarde, em Corniglia, enquanto apreciáva-mos um fantástico e único por do sol sobre o mar, do alto de uma varanda, degustávamos queijos e vinho branco (a paisagem destas cinco terras é dominada por vinhas ordenadas sobre as escarpas). E pela primeira vez, percebi o cliché do "dolce fare niente" que os italianos tanto falam.

Num dos últimos dias, resolvemos fazer uma caminhada até Portovenere, que não pertencendo ao Parco Nazionale delle Cinque Terre, é uma "romântica joía sobre o mar", a ponta ocidental do Golfo di La Spezia. E esta pontinha da Liguria foi para mim uma surpresa, tinha algo de imponente e poético, e foi então que percebi  o encanto de Lord Byron por este local.

Mas o melhor,  o que aconselho a quem quiser conhecer as Cinque Terre, é fazer um passeio de barco entre as terras. Foi o que fizemos no final desse dia, partimos de Portovenere, tendo como destino Monterosso al Mare (que ainda não tínhamos visitado), e fomos apreciando e fotografando o encanto de cada borgo desenhado na escarpa. Ter uma visão externa de cada uma das terras, perceber que parecem pequenos locais encantados retirados de um conto, de uma história, ainda torna a visita mais agradável.

Depois do passeio de barco, finalizámos o nosso dia, naquela que considerámos a mais bonita e encantadora, Vernazza, com uma acolhedora praça junto ao porto, e mais uma vez terminámos o nosso dia a comtemplar o mar e aquele final de tarde.

Este resumo, das memórias desta viagem, já podia estar escrito à mais tempo, mas este é um daqueles locais que perduram na memória, assim como os sabores e aromas lá captados. Como tal, consigo, ao fechar os olhos, reviver muitos dos momentos lá passados...

Quando se fala de Cinqueterre fala-se imediatamente na Via dell' Amore, que na minha opinião é muito sobrevalorizada, reconheço que podemos contemplar admiráveis vistas sobre o mar. Mas, para mim existe  também a "Piazza dell'Amore" (a praça de Vernazza), onde aquele final de tarde foi mágico...


Riomaggiore

Monterosso al Mare

Corniglia

Vernazza

Manarola

03 maio 2012

"Ontem senti-me triste..."


"Ontem senti-me triste - triste e aborrecido; e quando me levantei esta manhã estive quase decidido a deixar Florença. Mas saí para a rua, ao pé do Arno, olhei para um lado e para o outro - para o rio amarelo e para as colinas violetas - , e então decidi ficar - ou melhor, não decidi nada. Fiquei simplesmente ali parado contemplando a beleza de Florença, e antes de ter saciado o olhar já tinha recuperado o bom humor (...)."

(Henry James in "Diário de um homem de 50 anos")

02 maio 2012

"Sobre a ponte eu estava..."

foto de filipe's glance


"Sobre a ponte eu estava,
Há dias, na noite cinzenta
Ao longe ouvi uma canção:
Ela pingava gotas de ouro.
Pela superfície trêmula
Gôndolas, luzes, música -
Ébria ela nadou para a escuridão…
Minha alma, um alaúde,
cantou a si, invisível e ferida,
uma canção veneziana, e segredou,
trêmula de ventura colorida.
Será que alguém a escutou?"

(Friedrich Nietzsche)

Veneza Nocturna...




Como já aqui havia referido, os passeios na Veneza nocturna podem ser muito agradáveis, pois com o cair da noite  a cidade torna-se mais silenciosa, sombria e misteriosa. 
Venezianos e turistas, quase que por magia, desaparecem e deixam as ruas mais apelativas.

Principalmente com o objectivo de fazer algumas experiências fotográficas nocturnas, percorremos, mais uma vez, as labirínticas ruas da sereníssima...E não fossem as noites estarem tão frias, os passeios e descobertas nocturnas teriam sido ainda melhores.

E como não poderia deixar de ser, a mente de alguém que muito leu sobre os mistérios e personagens nocturnas desta cidade, pode imaginar o vislumbre de um vulto na noite, de uma personagem envergando uma máscara e uma capa...E pensar, se será o ambiente mágico desta cidade que gerou todas as histórias e personagens, ou se são essas fictícias personagens que invocam o referido mistério?


(todas as fotos de filipe's glance)